quinta-feira, 30 de abril de 2015

Mestre Nado de Olinda


 

                                                                Crédito:  Eric Gomes

O músico e mestre artesão Agnaldo da Silva – também conhecido como Mestre Nado de Olinda – tornou-se famoso pela fabricação de ocarinas de cerâmica, um instrumento musical que apareceu na Europa, no século XIX. Mestre Nado passou a dedicar-se a esses instrumentos depois que o trabalho de fabricação de quartinhas – seu ofício inicial de artesão – deixou de trazer os resultados esperados. Com recursos do FUNCULTURA (Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura), construiu o Centro Cultural Som do Barro, que funciona desde 2008, no Bairro de Caixa D’Água, em Olinda. O Centro atende a uma população de jovens de baixa renda, oferecendo oficinas e espetáculos, saraus, além de confecção de instrumentos de sopro e percussão, ofício ensinado pelo mestre aos seus alunos e alunas.


Em 2014, ainda com recursos do FUNCULTURA, Mestre Nado realizou o sonho de gravar um CD, com 06 músicas de sua autoria, nos ritmos coco, frevo e xaxado, tocadas com seu instrumento musical de barro. Mestre Nado já produziu instrumentos para a Orquestra Filarmônica de São Paulo e para artistas como Ney Matogrosso, Milton Nascimento, Lula Queiroga e Alceu Valença. Nado é ceramista, poeta, músico, autodidata. 
 


Nado trabalha com o barro desde criança. Hoje, aos 69 anos de idade, vive exclusivamente do artesanato, com a ajuda dos seus três filhos, Sara, Micael e Junior, no Centro Cultural Som do Barro,no bairro de Caixa D’Água / Olinda - PE. Alguns vídeos e exposições sobre o seu trabalho já foram realizadas, além de uma mostra fotográfica produzida pelo fotógrafo Eric Gomes.



 











Como Citar Este Texto:
SILVA, José Luiz Gomes da. Pesquisa Escolar do Nordeste. Disponível em http://pesquisaescolardonordeste.blogspot.com Acesso: dia, mês e ano. Ex: 14 ago. 2014




quarta-feira, 29 de abril de 2015

J. Borges




 
    J.Borges. Foto de Francisco Moreira da Costa 

“O melhor gravador popular do Nordeste”, nas palavras do escritor Ariano Suassuna, nasceu no dia 20 de dezembro de 1935, num sítio, na zona rural de Bezerros, cidade da microrregião do Agreste pernambucano. Começou a trabalhar aos 08 anos de idade, na agricultura, com o seu pai, um pouco depois tendo se dedicado ao comércio de colheres de pau, nas feiras livres. Somente aos 23 anos começou a trabalhar com cordel e fazer gravura. Numa de suas entrevistas concedidas ao Jornal do Commércio, ele relata: “Chegava nas cidades, colocava o tripé com os folhetos e abria a mala. Depois comprei um alto-falante. Quem tinha isso era chamado de comelô rico”.


José Francisco Borges dedicou pouco tempo de sua vida aos estudos formais. Abandonou a escola ainda na infância, por determinação da avó, que temia que ele fosse atacado pelo papa-figo nas ruas de Bezerros,  onde nasceu. Com referências como esta sobre o imaginário popular, era praticamente certo que ele, um dia, viesse a explorar esse universo de alguma maneira. E foi exatamente isso que aconteceu.Sem recursos para contratar um ilustrador para os seus primeiros trabalhos, em 1964, além dos cordéis, passou a fazer xilogravuras, entalhando o pinho e imburana, madeiras boas de talha. As xilogravuras passaram a ser confeccionadas em diversos tamanhos e comercializadas entre artistas, colecionadores e marchands. J. Borges reside e mantém seu ateliê às margens da BR 232, na cidade dos papangus, como passou a ser conhecida a cidade do artista, em razão das famosas fantasias utilizados pela população local durante os dias de carnaval.


J. Borges admite que o reconhecimento do seu trabalho pelo escritor Ariano Suassuna impulsionou bastante a sua carreira. O artista tem trabalhos expostos no Museu de Arte Popular de Santa Fé, no México, assim como na Europa e nos Estados Unidos. O escritor uruguaio, falecido recentemente, Eduardo Galeano, teve um dos seus livros ilustrados pelo xilogravurista pernambucano: As palavras ardentes.


O universo de sua inspiração está ligado ao imaginário social do povo nordestino, como o cotidiano do pobre, o cangaço, o amor, os castigos do céu, os mistérios, o messianismo, os milagres, a cachaça, crimes, corrupção, os folguedos populares, a religiosidade, a picardia. Assim como todo artista tem uma obra de sua preferência, a xilogravura que ele mais gosta é "A chegada da prostituta no céu”, de 1976. Apesar do reconhecimento e das homenagens oficiais recebidas, J. Borges sempre foi um cidadão bastante crítico sobre a forma como os artistas são tratados pelo poder público aqui no Brasil. A casa onde hoje reside foi adquirida com o dinheiro de algumas peças encomendadas por um cidadão da alemão. Em sua cidade natal, foi erguido o Memorial J. Borges, com exposição de parte de sua obra e objetos pessoais. 

Como Citar Este Texto:

SILVA, José Luiz Gomes da. J Borges. Pesquisa Escolar do Nordeste. Disponível em http://pesquisaescolardonordeste.blogspot.com acesso em: dia, mês e ano:Ex: 15 de ago.2015.



                                     

domingo, 26 de abril de 2015

Formas de purgar açúcar




Museu Nacional do Açúcar e do Álcool

O menino Carlinhos, personagem de "Menino de Engenho", de José Lins do Rego, passava horas encantado com a moagem da cana-de-açúcar no engenho do avô, onde foi criado, às margens do Rio Paraíba, na cidade de Pilar. Era a época do apogeu dos engenhos banguês. O processamento da cana para a obtenção da açúcar e outros derivados seguiu uma linha evolutiva que vai desde os métodos mais rudimentares - dos quais os engenhos do tipo banguês são um bom exemplo - à moderna tecnologia empregada pelas usinas, que implicou, naturalmente, na superestrutura do patriarcado rural nordestino.

As usinas representam a extinção do ciclo dos engenhos banguês, colocando alguns dos seus antigos poderosos senhores na condição de simples fornecedores de cana. Essas mudanças da tecnologia - ou das forças produtivas - iriam também mudar os padrões de relação entre usineiros e trabalhadores do eito, assim como na própria arquitetura da época. Começa aqui uma espécie de segregação entre os proprietários das usinas e os trabalhadores da cana, relativamente distinta das relações mantidas entre senhores de engenho e escravos. Ainda em "Menino de Engenho", José Lins do Rego observa que nas casas haviam "paredes" que impediam o livre acesso dos empregados a alguns cômodos das residências.

Nos antigos engenhos, entre os instrumentos utilizados para o beneficiamento do açúcar, pode-se mencionar as formas de purgar - recipiente confeccionado de barro, metal ou madeira, com um orifício em sua extremidade inferior, exposto em linhas nas andainas, onde era colocado o açúcar já cristalizado para ser purgado ou embranquecido. 

A finalidade das formas era a de purgar o açúcar, limpando-o das impurezas e separando-o do mel que envolve os cristais, pela ação da gravidade. Após um período de aproximadamente 15 dias é colocado argila e cal na extremidade superior das formas para facilitar o branqueamento do melaço. Os cristais da parte superior das formas tendem a tornar-se mais brancos, concentrando nas suas extremidades inferiores o chamado açúcar mascavo: menos purgado, portanto mais escuro e, consequentemente, mais saudável. 

Recife, 26 de abril de 2015

Como Citar Este Texto:

SILVA, José Luiz Gomes da: Formas de purgar açúcar. Pesquisa Escolar do Nordeste. Disponível em http://pesquisaescolardonordeste.blogspot.com. Acesso em: dia, mês e ano: Ex. 14 de mai.2014

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Cachaça


 

Impossível saber, com precisão, quando a cachaça começou a ser produzida no Brasil. Possivelmente, a partir de meados do século XVI, de acordos com as pesquisas do folclorista potiguar, Luis da Câmara Cascudo, publicadas no livro “Prelúdio da Cachaça”, de sua autoria.
Bebida destilada, obtida a partir da fermentação do caldo da cana-de-açúcar, nos seus primórdios, era uma bebida vulgar de escravos e navegantes. Ao se reportar a esse respeito, o folclorista pernambucano, Mário Souto Maior, emite as seguintes considerações:
“Em alguns engenhos do nordeste, a cachaça era fornecida aos negros do eito logo com a primeira refeição do dia, a fim de que melhor pudessem suportar o árduo trabalho nos canaviais durante o inverno, seminus, expostos à chuva, atolados no massapê.”
Há uma relação demasiadamente próxima entre cachaça e escravidão, sobretudo no tocante ao aspecto econômico, quando se observa a economia da época. A cachaça foi utilizada como “moeda” de troca nas transações envolvendo o tráfico de escravos. Moeda forte, de acordo com Câmara Cascudo:
“O tráfico da escravaria impôs a valorização incessante. A aguardente da terra, a futura cachaça, era indispensável para a compra do negro africano e, ao lado do tabaco de rolo, uma verdadeira moeda de extensa circulação. O escravo custa cachaça e rolos de tabaco aos seus proprietários africanos. É um cheque ao portador. (CASCUDO, 1987:26)
Pelo que se observa, dentre outros fatores, a aguardente contribuiu para o crescimento e o prolongamento do mercado africano exportador de escravos. Ainda em 1885, Stanley – historiador do período – confessava não ser possível relações comerciais no Congo, without rum, ou seja, sem cachaça.
Se isso é verdade, por outro lado, dialeticamente, alguns dos movimentos de caráter libertários mais importantes no Brasil – a exemplo da Revolução Pernambucana de 1817 – foram brindados com cachaça pelos seus líderes.
Possivelmente em razão de suas ligações históricas, a cachaça tornou-se uma exigência protocolar nos cultos de origem afro-brasileiros. Sem cachaça, como afirma Mário Souto Maior, não se arma um feitiço eficiente. A cachaça é também muito apreciada na culinária nordestina, acompanhando aqueles pratos ditos “pesados” – como a buchada, pro exemplo – sendo servida antes, durante e depois, não sem alguma justificativa, de acordo com o folclorista pernambucano: afirma-se que, servida antes das refeições, ajuda a abrir o apetite.
Hoje, no Brasil, os mineiros sempre foram conhecidos por produzirem as melhores cachaças. Essa hegemonia, no entanto, começa a ser ameaçada pela produção dos antigos engenhos da região do brejo paraibano, principalmente na cidade de Serraria. 

Recife, 23 de abril de 2015


Fontes Consultadas:

CÂMARA CASCUDO, Luiz da: Prelúdio da Cachaça. Etnografia, História e Sociologia da Aguardente no Brasil. Rio de Janeiro, IAA, 1968.

SOUTO MAIOR, Mário: Dicionário Folclórico da Cachaça. Recife, Editora Massangana, 1980.

Como Citar Este Texto:

SILVA, José Luiz Gomes da: Cachaça. Pesquisa Escolar do Nordeste. Disponível em http://pesquisaescolardonordeste.blogspot.com.br. Acesso em: dia, mês, ano: ex. 15 ago.2014



quinta-feira, 23 de abril de 2015

Messianismo






Historicamente, as palavras “messias” e “messianismo” estão vinculadas à religião israelita, tendo sua acepção popular associada ao profeta Isaías, de acordo com o pesquisador James Darmesteter, com base na Bíblia: “O povo que andava em trevas viu grande luz; os que moravam em terras de sobra da morte, a luz resplandeceu sobre eles, porque um menino nos nasceu, nos foi dado um filho; traz o governo em seus ombros. Se nome será Conselheiro, admirável, herói de deus, padre eterno, príncipe da paz, nascido para restabelecê-la e afirmá-la através do direito e da justiça, desde agora e para sempre.”

Embora não seja negada sua origem na religião israelita, a rigor, o judaísmo, de acordo com a pesquisadora Isaura Pereira de Queiroz, refinou tão conceito, caracterizando o “Messias” como o personagem concebido como um guia divino que deve levar o povo eleito ao desenlace natural do desenrolar da história, isto é, à humilhação dos inimigos e o restabelecimento de um reino terreno e glorioso para Israel. A vinda desse reino coincidirá com o “fim dos tempos” e significará a edificação do paraíso na terra.

Tal crença também seria reforçada pelo cristianismo, com a ideia do juízo final. Muito analisado sob o prisma teológico, o termo “messiânico” ganharia status nos estudos sociológicos, identificando-o com uma categoria de líderes religiosos e, ainda mais importante, diagnosticando as condições e os processos sociais relacionados ao seu surgimento.

O sociólogo alemão, Max Weber, observou a condição de exclusão sócio-econômica de determinados segmentos sociais como a variável de valor discriminatório mais relevante para o surgimento desses movimentos, embora, admita, essa não seja a única causa. Sob certos aspectos, o Nordeste brasileiro constitui-se uma região susceptível ao fenômeno: estrutura agrária ainda concentrada em latifúndios improdutivos; indicadores sociais ainda muito preocupantes, como as altas taxas de analfabetismo na população adulta; estiagens prolongadas. 

Fontes Consultadas:

QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de: A Guerra Santa no Brasil: O movimento messiânico no Contestado, 1957. 

Como Citar Este Texto:

SILVA, José Luiz Gomes da. messianismo. Pesquisa Escolar do Nordeste. disponível em http://pesquisaescolardonordeste.blogspot.com.br acesso em: dia, mês e ano: Ex. 15 de ago. 2014.