Impossível saber, com
precisão, quando a cachaça começou a ser produzida no Brasil. Possivelmente, a
partir de meados do século XVI, de acordos com as pesquisas do folclorista
potiguar, Luis da Câmara Cascudo, publicadas no livro “Prelúdio da Cachaça”, de
sua autoria.
Bebida destilada, obtida a
partir da fermentação do caldo da cana-de-açúcar, nos seus primórdios, era uma
bebida vulgar de escravos e navegantes. Ao se reportar a esse respeito, o
folclorista pernambucano, Mário Souto Maior, emite as seguintes considerações:
“Em
alguns engenhos do nordeste, a cachaça era fornecida aos negros do eito logo
com a primeira refeição do dia, a fim de que melhor pudessem suportar o árduo
trabalho nos canaviais durante o inverno, seminus, expostos à chuva, atolados
no massapê.”
Há uma relação
demasiadamente próxima entre cachaça e escravidão, sobretudo no tocante ao
aspecto econômico, quando se observa a economia da época. A cachaça foi
utilizada como “moeda” de troca nas transações envolvendo o tráfico de
escravos. Moeda forte, de acordo com Câmara Cascudo:
“O
tráfico da escravaria impôs a valorização incessante. A aguardente da terra, a
futura cachaça, era indispensável para a compra do negro africano e, ao lado do
tabaco de rolo, uma verdadeira moeda de extensa circulação. O escravo custa
cachaça e rolos de tabaco aos seus proprietários africanos. É um cheque ao
portador. (CASCUDO, 1987:26)
Pelo que se observa,
dentre outros fatores, a aguardente contribuiu para o crescimento e o
prolongamento do mercado africano exportador de escravos. Ainda em 1885,
Stanley – historiador do período – confessava não ser possível relações comerciais
no Congo, without rum, ou seja, sem cachaça.
Se isso é verdade, por
outro lado, dialeticamente, alguns dos movimentos de caráter libertários mais
importantes no Brasil – a exemplo da Revolução Pernambucana de 1817 – foram brindados
com cachaça pelos seus líderes.
Possivelmente em razão de
suas ligações históricas, a cachaça tornou-se uma exigência protocolar nos
cultos de origem afro-brasileiros. Sem cachaça, como afirma Mário Souto Maior,
não se arma um feitiço eficiente. A cachaça é também muito apreciada na
culinária nordestina, acompanhando aqueles pratos ditos “pesados” – como a
buchada, pro exemplo – sendo servida antes, durante e depois, não sem alguma
justificativa, de acordo com o folclorista pernambucano: afirma-se que, servida
antes das refeições, ajuda a abrir o apetite.
Hoje, no Brasil, os
mineiros sempre foram conhecidos por produzirem as melhores cachaças. Essa
hegemonia, no entanto, começa a ser ameaçada pela produção dos antigos engenhos
da região do brejo paraibano, principalmente na cidade de Serraria.
Recife, 23 de abril de 2015
Fontes Consultadas:
Fontes Consultadas:
CÂMARA CASCUDO, Luiz da: Prelúdio da Cachaça. Etnografia, História e Sociologia da Aguardente no Brasil. Rio de Janeiro, IAA, 1968.
SOUTO MAIOR, Mário: Dicionário Folclórico da Cachaça. Recife, Editora Massangana, 1980.
Como Citar Este Texto:
SILVA, José Luiz Gomes da: Cachaça. Pesquisa Escolar do Nordeste. Disponível em http://pesquisaescolardonordeste.blogspot.com.br. Acesso em: dia, mês, ano: ex. 15 ago.2014
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