sexta-feira, 24 de abril de 2015

Cachaça


 

Impossível saber, com precisão, quando a cachaça começou a ser produzida no Brasil. Possivelmente, a partir de meados do século XVI, de acordos com as pesquisas do folclorista potiguar, Luis da Câmara Cascudo, publicadas no livro “Prelúdio da Cachaça”, de sua autoria.
Bebida destilada, obtida a partir da fermentação do caldo da cana-de-açúcar, nos seus primórdios, era uma bebida vulgar de escravos e navegantes. Ao se reportar a esse respeito, o folclorista pernambucano, Mário Souto Maior, emite as seguintes considerações:
“Em alguns engenhos do nordeste, a cachaça era fornecida aos negros do eito logo com a primeira refeição do dia, a fim de que melhor pudessem suportar o árduo trabalho nos canaviais durante o inverno, seminus, expostos à chuva, atolados no massapê.”
Há uma relação demasiadamente próxima entre cachaça e escravidão, sobretudo no tocante ao aspecto econômico, quando se observa a economia da época. A cachaça foi utilizada como “moeda” de troca nas transações envolvendo o tráfico de escravos. Moeda forte, de acordo com Câmara Cascudo:
“O tráfico da escravaria impôs a valorização incessante. A aguardente da terra, a futura cachaça, era indispensável para a compra do negro africano e, ao lado do tabaco de rolo, uma verdadeira moeda de extensa circulação. O escravo custa cachaça e rolos de tabaco aos seus proprietários africanos. É um cheque ao portador. (CASCUDO, 1987:26)
Pelo que se observa, dentre outros fatores, a aguardente contribuiu para o crescimento e o prolongamento do mercado africano exportador de escravos. Ainda em 1885, Stanley – historiador do período – confessava não ser possível relações comerciais no Congo, without rum, ou seja, sem cachaça.
Se isso é verdade, por outro lado, dialeticamente, alguns dos movimentos de caráter libertários mais importantes no Brasil – a exemplo da Revolução Pernambucana de 1817 – foram brindados com cachaça pelos seus líderes.
Possivelmente em razão de suas ligações históricas, a cachaça tornou-se uma exigência protocolar nos cultos de origem afro-brasileiros. Sem cachaça, como afirma Mário Souto Maior, não se arma um feitiço eficiente. A cachaça é também muito apreciada na culinária nordestina, acompanhando aqueles pratos ditos “pesados” – como a buchada, pro exemplo – sendo servida antes, durante e depois, não sem alguma justificativa, de acordo com o folclorista pernambucano: afirma-se que, servida antes das refeições, ajuda a abrir o apetite.
Hoje, no Brasil, os mineiros sempre foram conhecidos por produzirem as melhores cachaças. Essa hegemonia, no entanto, começa a ser ameaçada pela produção dos antigos engenhos da região do brejo paraibano, principalmente na cidade de Serraria. 

Recife, 23 de abril de 2015


Fontes Consultadas:

CÂMARA CASCUDO, Luiz da: Prelúdio da Cachaça. Etnografia, História e Sociologia da Aguardente no Brasil. Rio de Janeiro, IAA, 1968.

SOUTO MAIOR, Mário: Dicionário Folclórico da Cachaça. Recife, Editora Massangana, 1980.

Como Citar Este Texto:

SILVA, José Luiz Gomes da: Cachaça. Pesquisa Escolar do Nordeste. Disponível em http://pesquisaescolardonordeste.blogspot.com.br. Acesso em: dia, mês, ano: ex. 15 ago.2014



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